terça-feira, 17 de maio de 2011



Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais,
tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.


Eugénio de Andrade, Ofício da Paciência

sábado, 7 de maio de 2011

Um livro sobre o amor aos livros

É sobejamente conhecido o desgosto com que os pais preocupados com a formação dos filhos costumam registar a inapetência destes para a leitura. Daniel Pennac, romancista, professor e pai de família, descreve neste ensaio cheio de humor, todas as perplexidades que usualmente assaltam os diversos intervenientes neste processo de conflitos surdos, temores, bloqueios e teimosias.
Acima de tudo, conforme se sublinha no presente livro, a leitura tem de ser um prazer e os leitores de hoje devem usufruir de alguns direitos inalienáveis.
Como Um Romance é assim uma obra profundamente original, onde, de uma forma ao mesmo tempo divertida e muito séria, se aborda aquela que é porventura a questão central de que dependem o destino do livro e da cultura tal como a temos entendido tradicionalmente.

Ler Mais ,em Braga

No passado dia 30 de Abril, pelas 15 horas, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva promoveu um encontro com todos os alunos concorrentes ao LER Mais, em Braga.
A Escola EB 2,3 de Celeirós, tendo aderido a este concurso, desenvolveu a 1ª fase do mesmo e preparou os alunos vencedores desta 1ª fase para a participação a nível concelhio. Os resultados foram os melhores: quer a Eva Oliveira (4º ano da Escola EB1/JI da Cruz), quer a Margarida Silva (3º ano da Escola EB1/JI da Cruz) alcançaram o 1º lugar para o seu nível de ensino (3º e 4º anos).
A Leonor Veiga (5ºA) e o Tiago Leite (6ºD), apesar de não terem sido premiados, saíram mais ricos com a experiência pela qual passaram. A Biblioteca Escolar, o Plano Nacional de Leitura e todos os docentes envolvidos tornaram possível esta pequena aventura no mundo literário.
Parabéns aos participantes !

                              Eva Oliveira(4º ano), Margarida Silva (3º ano) e Leonor Veiga (5º ano)

domingo, 1 de maio de 2011

Dia da Mãe

Mãe: não quero ensombrar o teu dia, assombrar o dia que para ti fizeram os fazedores comerciais de dias. O teu dia é, apesar de tudo, um dia justo, um dia que tu mereces infinitamente, muito além do comércio de merecimentos em que nos tornámos peritos e agiotas. Não quero negar-te as flores da justiça que para ti eu acho justas: as flores que nascem dos teus dedos quando plantas jardins no meu olhar.
Mas hoje deixa-me falar-te do mundo, mãe, e das desditas do mundo que as datas não compreendem nem comportam [não, mãe, não é do mundo impecável das datas que quero falar-te, do mundo afixado na parede, científico e neutro]. É do mundo mesmo que quero falar-te: do mundo em que todos giramos a uma velocidade constante e segundo uma inclinação necessária. Rodamos no mesmo sentido e tão desencontrados, mãe! É desse mundo que nos foi dado e nos corre nas veias que quero falar-te.
Quero dizer-te um segredo que eu pensei: reparaste nos joelhos famintos que fazem um H, que ligam pelo meio as duas colunas das pernas? São meus, mãe, são os meus joelhos, as minhas pernas de Homem que porventura nunca serei. Estou ao teu lado e por detrás de ti. As mãos pesam-me como se houvesse um mundo suspenso em cada uma delas. Não podes ver os meus olhos, mas eu vou dizer-te: olham na mesma direcção dos teus e, como os teus, são de gelatina e brometo de prata. Sim, mãe, é essa a nossa composição química para esta data que para ti fizeram os fazedores de datas. Somos figuras sem nome duma fotografia premiada, a câmara escura onde ousamos pensar o mundo em segredo.
Os fazedores de datas fizeram-te uma data e eu estou contente, apesar de tudo. Se eu te dissesse que me apetece chorar, não ficarias surpreendida. Mas não chorarei, mãe, porque tenho umas mãos grandes, com um mundo suspenso em cada uma delas. São grandes, mãe, e têm a articulação necessária para colher as flores que tu mereces. Não chorarei, não me apetece chorar o mundo. O que eu quero nesta data que para ti fizeram os fazedores de datas, sabes o que é? O que eu quero é mudar o mundo, mãe

Título: Carta a minha mãe sobre um segredo que eu pensei
Nuno Higino